sábado, 1 de janeiro de 2011

Oração diante do Tempo

Senhor Jesus:
Diante do calendário que se renova, deixa que nos ajoelhemos para implorar-te compaixão.
Tu que eras antes que fôssemos, que nos tutelaste, em nome do Criador, na noite insondável das origens, não desvies de nós teu olhar, para que não venhamos a perder o adubo do sangue e das lágrimas, oriundo das civilizações que morreram sob a guante da violência!...
Determinaste que o Tempo, à feição de ministro silencioso de tua justiça, nos seguisse todos os passos...
E, com os séculos, carregamos o pedregulho da ilusão, dele extraindo o ouro da experiência.
Do berço para o túmulo e do túmulo para o berço, temos sido senhores e escravos, ricos e pobres, fidalgos e plebeus.
Entretanto, em todas as posições, temos vivido em fuga constante da verdade, à caça de triunfo e dominação para o nosso velho egoísmo.
Na governança, nutríamos a vaidade e a miséria.
Na subalternidade, alentávamos o desespero e a insubmissão.
Na fortuna, éramos orgulhosos e inúteis.
Na carência, vivíamos intemperantes e despeitados.
Administrando, alongávamos o crime.
Obedecendo, atendíamos à vingança.
Resistíamos a todos os teus apelos em tenebrosos labirintos de opressão e delinquência, quando vieste ensinar-nos o caminho libertador.
Não te limitaste a crer na glória do Pai Celeste.
Estendeste-lhe a incomparável bondade.
Não te circunscreveste à fé que renova.
Abraçaste o amor que redime.
Não te detiveste entre os eleitos da virtude.
Comungaste o ambiente das vítimas do mal, para reconduzi-las ao bem.
Não te ilhaste na oração pura e simples.
Ofertastes mãos amigas às necessidades alheias.
Não te isolastes, junto à dignidade venerável de Salomé, a venturosa mãe dos filhos de Zebedeu.
Acolhestes a Madalena, possuída de sete gênios sombrios.
Não consideraste tão somente a Bartimeu, o mendigo cego.
Consagraste generosa atenção a Zaqueu, o rico necessitado.
Não apenas aconselhaste a fraternidade aos semelhantes
Praticaste-a com devotamento e carinho, da intimidade do lar ao sol meridiano da praça pública.
Não pregaste a doutrina do perdão e da renuncia exclusivamente para os outros.
Aceitaste a cruz do escárnio e da morte, com abnegação e a humildade, a fim de que aprendêssemos a procurar contigo a divina ressurreição...
Entretanto, ainda hoje, decorridos quase vinte séculos sobre o teu sacrifício, não temos senão lágrimas de remorsos e arrependimento para fecundar o Saara de nossos corações...
Em teu nome, discípulos infiéis que temos sido, espalhamos nuvens de discórdias e crueldade nos horizontes de toda a terra! É por isso que o Tempo nos encontra hoje tão pobres e desventurados como ontem, por desleais ao teu Evangelho de Redenção.
Não nos deixes, contudo, órfãos de tua Benção...
No oceano encapelado das provações que merecemos, a tempestade ruge em pavorosos açoites... Nosso mundo, Senhor, é uma embarcação que estala aos golpes rijos do vento. Entre as convulsões da procela que nos arrasta e o abismo que nos espreita, clamamos por teu socorro! E confiamos em que te levantarás luminoso e imaculado sobre a onda móvel e traiçoeira, aplacando a fúria os elementos e exclamando para nós, como outrora disseste aos discípulos aterrados: - “Homens de pouca fé, por que duvidaste?


XAVIER, Francisco Cândido. IN: Cartas e Crônicas, p. 179. Psicografia do Espírito Irmão X. Editora FEB. Brasília, DF. 1966.

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